terça-feira, 24 de novembro de 2009

TUDE CELESTINO DE SOUZA


Nascido em Campo Formoso, em 25 de Junho de 1921, o poeta Tude Celestino de Souza fora criado em Ilhéus, o que lhe conferiu grande parte da inspiração para a fase inicial de sua obra literária, permeada de referências rurais, influências do cordel, repente e cantadores do interior da Bahia. Poeta de formação autodidata, tendo cumprido os estudos formais apenas até o 4° ano primário, é autor da trilogia O Ás de Ouro, o poema mais emblemático de sua obra, uma saga fictícia em três fases, com linguagem matuta, tipicamente sertaneja e eivada de traços trágicos, que narra a trajetória de um sujeito acometido pelo sentimento de vingança e que também dá nome a seu único livro, que teria segunda edição publicada pouco antes de sua morte, mas que aguarda lançamento, previsto em edição especial pelos 20 anos de seu falecimento.
Tude Celestino marcou sua poesia com temáticas relativas à boemia, ao amor e, sobretudo, à referência nordestina, pelo que é mais lembrado; sua obra, no entanto, contempla ainda um traço marcante de versatilidade, incluindo os, ainda inéditos, poemas fesceninos.
Apesar da influência primeira, pautada na temática nordestina, a cegueira, que o acometera por influência do diabetes, constituiu uma relevante influência para o caráter que seus versos assumiram posteriormente, conferindo-lhe determinada pujança e capacidade de abstração e contemplação nãovisual da relação tempo-espaço.
Foi, contudo, durante os anos de 1940, na então Santo Amaro do Ipitanga, onde se teria estabelecido por ocasião da implantação da Base Aérea do Salvador e do Aeroporto Internacional Dois de Julho, vindo atuar como agente aeroportuário, que assumiu plenamente sua irrefutável vocação de poeta, firmando-se como referência cultural do município que o acolheu como ilustre cidadão.
Declarado pelo poeta e jornalista Jeová de Carvalho como um “ente sagrado de impossível repetição”, dada a exuberância, inestimável valor literário e elaboração de sua obra, Tude se manteve sempre em evidência na região, tendo seu nome vinculado a grande parte da agitação cultural e social vigente até o final dos anos 80, quando, por complicações do diabetes, pôs termo à sua produção literária - mas não sua respeitabilidade junto ao povo desse lugar, sobretudo, por conta dos memoráveis saraus que abrigou no espaço cultural Ás de Ouro, referência da boemia local àquela época, quando, através d’A Noite Poeta - evento oficial promovido com incentivo e
participação da prefeitura municipal, contando sempre com presenças de nomes importantes das letras na Bahia -, o poeta gozou do prestígio de nomear o Prêmio Tude Celestino de Souza de Poesia, que, em edições anuais, destacou e incentivou a produção literária local, conferindo visibilidade ao município como eixo cultural no estado.
Recentemente, em iniciativa conjunta de diversos segmentos da comunidade de Lauro de Freitas, a partir da sugestão do Historiador Gildásio Freitas em tributo aos 20 anos de morte do poeta, propõe-se a atribuição de seu nome ao Centro de Cultura local, antiga sede dos festivais em sua homenagem, tornando-o Centro de Cultura Tude Celestino – CCTC.
Apesar da larga influência das ações culturais do poeta Tude Celestino como mantenedor da imagem do município como pólo cultural na sua época, hoje, quase não se tem conhecimento da relevância da sua obra, daí a importância de ações como o Movimento ATiTude CelesTina e, mais especificamente, o Projeto ATiTude.
Tude Celestino, entre outras peculiaridades, marcou em sua obra uma veemente ação pela preservação do nome e memória de Ipitanga (que remete à origem indígena e significa água vermelha) - denominação original da localidade hoje conhecida pelo nome de Lauro de Freitas, que lhe foi atribuído por ocasião da emancipação política ocorrida em 1962.
Manifestando sua ressalva pela atribuição de tal nome ao município, o poeta alegara antever um processo sutil de alienação da memória local. Para ele, a emancipação política, um processo legítimo e natural na trajetória de evolução de uma localidade, não pressupunha necessariamente o desmerecimento da memória e das referências locais referendadas no nome de Santo Amaro de Ipitanga (denominação jesuíta estabelecida com a fundação da freguesia em 1608).
Atento à necessidade da instituição de dispositivos para a manutenção da memória local, datou toda a sua obra literária em Ipitanga ou mesmo Santo Amaro de Ipitanga, mesmo nas composições posteriores à emanciapção, além de ter rejeitado o título de cidadão laurofreitense, alegando, no entanto, que se reconhecia cidadão ipitanguense.
A despeito da cegueira, tal sensibilidade e percepção apurada do mundo e da sociedade nem sempre fora expressa em seus versos, mas marcou seu pensamento em sua comunidade e em seu tempo conferindo-lhe a notoriedade e respeito de que goza ainda hoje.
Tude Celestino – o poeta de Ipitanga, faleceu em 21 de Julho de 1989, deixando viúva e quatro filhos e está sepultado no cemitério da igreja da matriz.

7 comentários:

  1. Queria agradecer a Tina Celestino pela excelente iniciativa, resgatando um legado importantíssimo de nosso poeta Tude Celestino de Souza. Dessa forma, nós cidadãos ipitanenses saberemos melhor a nossa história, através de seus versos serenos.
    Sou a favor tanto da permuta do nome do Centro de Cultura de Lauro de Freitas, para ser chamando de Centro de Cultura Tude Celestino – CCTC, assim como, o resgate do verdadeiro nome desta cidade: Ipitanga. Em relação ao último, pode parecer utopia mas o que se propõe é a autenticidade histórica desta cidade.

    ALEXANDRO SALES

    ResponderExcluir
  2. Tina, gostaria de agradecer-lhe pelo seu comentario postado no meu blog "viola de Campina", muito embora o tenha feito somente agora. Tambem fiquei feliz em saber que você mantem viva recordaçoes de Zé Laurentino com o seu pai. Gostei muito do seu blog e o acompanho há alguns dias.

    ResponderExcluir
  3. Muito legal poder ver publicado esta obra aqui em pedacinhos, me faz voltar no tempo em que comecei a fazer teatro e e trabalhava com estas palavras tão lindamente arrumadas por seu pai.
    Espero que coloque o blog pra movimentar, estou esperando novas publicações.
    Um beijo

    ResponderExcluir
  4. Tude Celestino é uma das grandes referências da minha juventude. Por volta de 1982, aos 24 anos, fui levado pelo amigo Clóvis Barragrande ao Bar Ás de Ouro, onde retornei em muitas ocasiões. Ficamos amigos e, à sombra de sua mangueira, bebemos muitas cervejas e conversamos sobre quase tudo. Além de possuidor de uma sensibilidade poética privilegiada, Tude Celestino era alguém com qualidades essencias, sem as quais a condição humana empobrece e a vida fica mais triste. Tudo isso para expressar aqui, de viva-voz, a minha gratidão por tudo quanto sua generosidade e seu enorme coração de poeta me ensinaram.

    Valente Junior

    ResponderExcluir
  5. Muito lindo. Não só o pai e sua historia e poesia, mas tambem suas filhas, nessa missão de preservar a obra do pai. Quem tem filhas assim nunca morre.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jorginho, você é que é lindo e generoso.
      Mil Beijos.
      Gade Tude

      Excluir
  6. Da outra vez que tive aqui, vasculhei cada canto, li os poemas etc.´mas não me lembrava de ter visto a foto do seu pai, que agora vi. fiquei tão ansioso pra ver os poemas que acabei me focando mais nisso. hahahahah. Fiz isso no final da noite, já de madrugada.

    ResponderExcluir